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Assim jaz um governo


É difícil escrever sobre o Arrudagate, já que toda hora aparece algo novo no escândalo. Mas aqui vão algumas considerações sobre o caso.

O ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda e ex-presidente da Codeplan do governo Roriz, Durval Barbosa, homem-bomba do escândalo, não é alguém de quem eu compraria um carro usado, mas suas denúncias vão além de simples declarações. Há provas, áudio, vídeos feitos com o conhecimento e a autorização da Justiça.

Por enquanto, é verdade, não há base para se cassar o mandato de José Roberto Arruda (PFL), governador democraticamente eleito, mas se forem confirmadas as denúncias este governo entrará pra história como o mais corrupto do Distrito Federal, e olha que já tivemos quatro governos comandados por Joaquim Roriz.

Fraudes em licitações, desvio de dinheiro público, compra de apoio de parlamentares e partidos políticos com conhecimento, consentimento e participação direta do próprio governador. Essas características fazem com que o atual escândalo se mostre distante daquele que se colocou sobre o governo federal entre 2005 e 2006. Portanto, chamá-lo de mensalão é tentar baralhar os fatos, misturar alhos com bugalhos e igualar os desiguais. Chamar de mensalinho então é fazer o mesmo e ainda tentar diminuir o tamanho da esculhambação que corrói as instituições do Distrito Federal.

O envolvimento do governador, do vice-governador, do presidente da Câmara Legislativa, de considerável parte dos deputados distritais, secretários e do conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal Domingos Lamoglia pode inviabilizar não apenas o governo, mas o Estado, pelo menos por um certo período.



Roriz, o honesto (?)

O governo Arruda, como se sabe, é formado majoritariamente por ex-rorizistas. Do próprio Arruda a Durval Barbosa, de Paulo Octácio a Ricardo Pena, de Valdivino Oliveira a Odilon Aires. Há, portanto, fortes motivos para acreditar que o esquema, que, diga-se, ainda está por se provar, começou antes de Arruda ocupar o Palácio do Buriti.

Há também razões para acreditar que Roriz sabia que estes fatos viriam a público. Em entrevista concedida em outubro ao jornal "Hoje em Dia", o ex-governador disse que o governo Arruda acabaria em abril e disse que sentia que seu adversário verde não seria candidato a reeleição. Perguntado pelo motivo Roriz foi lacônico: "Tenho vontade de falar, mas não posso".

Pode ser até que Durval seja um agente duplo, que estivesse infiltrado no governo Arruda trabalhando por Roriz. Pode ser inclusive que ele tenha aceitado fazer as escutas por, além de se beneficiar de redução de pena no caso de condenação, ser do interesse de Roriz. Nada disso, porém, inocentaria Arruda.



De reeleição certa ou vice a renúncia ou licença

O (ainda) governador Arruda era um dos cotados para ser o candidato à vice-presidência da República na chapa encabeçada por José Serra (PSDB). Caso fosse apenas candidato a reeleição era cotado como favorito.

Mas o mundo gira e a situação política de Arruda agora simplesmente não tem mais sustentação.

É verdade que Arruda já passou por um grande escândalo, o da violação do painel do Senado, e deu a volta por cima. Renunciou ao mandato, voltou ao Congresso Nacional como deputado federal mais bem votado do Brasil (mais de 320.000 votos) e foi eleito governador em 1º turno.

Porém, há uma grande diferença. Naquele caso não havia envolvimento direto de dinheiro público. Desta vez há vídeo claro e nítido do careca recebendo volumosa quantia. E quem viu Arruda se defendendo no caso do painel e depois admitindo a mentira não acreditará em uma palavra da sua defesa. E falando em defesa, eu me nego a comentar aqui a justificativa do panetone.



Os caminhos de Arruda

Quem conhece o jeito de Arruda fazer política aposta que ele vai tentar submergir e apostar no esfriamento do escândalo com a chegada do fim de ano. Qualquer outra atitude dependeria do não sucesso dessa tentativa.

O afastamento temporário seria o mais coerente. Se ele afastou os secretários citados no escândalo é porque julga que as denúncias são graves e que eles devem se defender fora do cargo e só voltarem se forem inocentados. Ora, a mesma premissa deveria valer também pra ele próprio.

Como coerência não é matéria que se preze na política. Arruda só deverá se afastar em último caso. Se a população for às ruas exigir sua saída, a imprensa nacional der ampla cobertura e os aliados, políticos e empresariais, se afastarem.

Renúncia é pouquíssimo provável. Um processo de impeachment não ocorre de uma hora pra outra. Em duas semanas a Câmara Legislativa entrará em recesso e só voltará no fim de janeiro. Daí até abrir o processo, do processo aberto até ser concluído, daí até ser aprovado... Tudo isso levaria grande tempo, principalmente se levarmos em consideração que ano que vem é ano eleitoral e grande parte dos deputados distritais estão interessadíssimos em abafar o caso e
cuidar de suas próprias reeleições.

A oposição, vale lembrar, só tem 5 dos 24 deputados. Mesmo se o processo for aberto e concluído dificilmente seria aprovado. E repito: "principalmente se levarmos em consideração que ano que vem é ano eleitoral e grande parte dos deputados distritais estão interessadíssimos em abafar o caso e cuidar de suas próprias reeleições".



Reeleição quase impossível

Esta é a parte mais difícil do texto porque tenho que fazer vários cálculos ao mesmo tempo. Convido os leitores a discordarem ou comentarem.

Arruda foi eleito governador em 2006 no primeiro turno, é verdade, mas com apenas 50,3% dos votos e num cenário perfeito para si. Os dois grupos políticos tradicionais do DF estavam em baixa.

Os azuis porque o candidato não era Roriz e se o velho nunca perdeu uma eleição no DF, também nunca transferiu voto. Além de boa parte da base rorizista ter sido cooptada por Arruda, agora imaginamos o porquê.

Os vermelhos ainda sofriam as consequências do escândalo do valerioduto, a candidata não era a ideal, a base estava desmobilizada, o marketing era péssimo e não tinham dinheiro pra bancar nada melhor.

Assim, Arruda cresceu no eleitorado de Roriz com mil promessas, grande estrutura de campanha e uma bizarra circunstância. Roriz era candidato a senador e apoiava Maria de Lourdes Abadia (PSDB) para o governo. Arruda lançou um laranja, Marcos Cardoso, como candidato a senador, mas declarava apoio a Roriz, que por sua vez esperava uma vitória tranquila, mas levou um sufoco de Agnelo Queiroz, e não renegou as declarações de apoio de Arruda, líder nas pesquisas pra governador.

Com a imagem ética dos petistas abalada, Arruda também cresceu nesse eleitorado legalista, sobretudo no Plano Piloto.

Levando essa avaliação em consideração, Arruda perderá sua força no eleitorado azul, já que Roriz será o candidato dessa vez, e no eleitorado vermelho, já que o PT não está mais em crise, e sim o próprio Arruda.

A última força de Arruda, na possibilidade dele insistir em concorrer à reeleição, é a máquina pública, mas também é bom lembrar que a máquina só ganhou no DF mas eleições de 2002, quando Roriz foi reeleito governador com menos de 16 mil votos a frente de Geraldo Magela.



Sem futuro político

Se ainda não dá pra dizer juridicamente que estão cabalmente provadas as denúncias de corrupção, politicamente este é o fim de Arruda. Ainda bem.



Não há imprensa livre no DF

Neste momento pré Conferência Nacional de Comunicação é interessante ver a postura da "imprensa" local quanto ao escândalo.

O Correio Braziliense declarou na 1ª página que "GDF e distritais são alvo de denúncia". Imaginem se a Polícia Federal entrasse no Palácio da Alvorada durante uma operação. O alvo da denúncia seria o "governo federal" ou LULA (em letras garrafais mesmo)? O CB também não citou Arruda entre os investigados na 1ª página.

O Jornal de Brasília, que nunca fez jornalismo, estampou como manchete: "Arruda exonera secretários". Simplesmente rídiculo e inútil a tentativa de esconder o envolvido de Arruda nas irregularidades.

Vivemos uma situação de risco no DF quanto a liberdade de imprensa. Similar até, me arrisco a dizer, do que na época de ditadura militar. Naquela época havia censura prévia que proibia os jornais de criticarem ou questionarem o governo federal. Hoje, no DF, além de não poder criticar o governom os jornais ainda são forças a elogiar a incompetência e a esconder a corrupção do governo Arruda. Estão todos no bolso do GDF via verba de publicidade.



Movimento Fora Arruda

Segunda-feira, às 15h, na sede da CUT-DF, reunem-se os partidos de oposição e os movimentos sociais para analisar as denúncias e definir meios de pressionar por duras investigações e punições exemplares para os culpados. Estarei na reunião e diante das graves denúncias e consistentes provas defenderei o afastamento de Arruda do cargo de governador.

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